Efeito Gell Man: perpetuador da desinformação

O quão capacitado você é para julgar uma informação jornalística?

Uma questão de ponto de vista

Sr. Carlos é um médico renomado, cirurgião especialista. Está em casa pela manhã, lendo as notícias em seu jornal e se depara com uma reportagem sobre uma patologia cirúrgica que conhece muito bem.

Percebe claramente que o jornalista não tem a mínima ideia do que está falando. A reportagem é recheada de furos e inconsistências, além de confusões conceituais básicas sobre a área médica.

Indignado, ele folheia as páginas.

Na seção ’economia’, começa a ler sobre previsões econômicas. Ele entende algo, mas não tudo. Concorda com o jornalista e pensa “realmente, a economia vai muito mal, aqui está a causa!”.

Insatisfeito, deixa o jornal de lado.

Do outro lado da cidade, Sr. Roberto, grande economista da Universidade local, reconhecido nacionalmente, inicia a leitura do mesmo jornal na seção que mais lhe interessa, a de economia.

Já nos primeiros parágrafos, percebe claramente que o jornalista não tem a mínima ideia do que está falando. A reportagem é recheada de furos e inconsistências, além de confusões conceituais básicas sobre a área econômica. Soa familiar?

Indignado, ele vira a página.

Na seção ‘saúde’, se depara com explicações sobre a patologia cirúrgica citada anteriormente. Assustado, concorda com a matéria: “onde vamos parar? que doença horrível! por que os médicos não se dedicam a combater tal atrocidade?”.

Insatisfeito, deixa o jornal de lado.

Análise

Ambas as renomadas personagens desta estória se conformaram facilmente com a fonte, mesmo tendo provas de sua inconsistência previamente. Por quê?

Por que ignoraram o fato de que, há algumas páginas antes o jornal era uma fonte completamente estúpida?

Efeito Gell-Mann

Murray Gell-Mann, c. 2012.

Em uma tarde setentrional norte americana da década de 70, em algum café aconchegante, o físico nuclear Gell-Mann e seu colega médico Michael Crichton conversavam sobre este fenômeno. Após o insight do amigo, Crichton nomeou-o de amnésia de Gell-Mann.

A amnésia de Gell-Mann é o efeito de curta memória que temos sobre a estupidez das fontes, isto é, temos a tendência de perdoarmos informações incoerentes ou inconsistentes fora do nosso campo de especialidade, o que nos torna suscetíveis a manipulação jornalística com facilidade.

Este fenômeno é, sem dúvidas, o impetus de toda desinformação atual. Não podemos ser especialistas em tudo e, para a grande maioria das pessoas, é difícil construir um juízo adequado sobre a um assunto aleatório qualquer.

Desde a metade do século passado, somos bombardeados pela dita mídia, sobre inúmeros temas e, em quase todos, você não tem a mínima capacidade de formular uma opinião sólida. Às vezes, desconfia de algo aqui, ou acolá, mas nunca duvida do todo, porque vira a página e é feliz novamente.

Amnésia vem do grego mnesis, que signfica registo, memória.
a-mnesis é a negação absoluta, ausência.

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