Por trás de toda teoria conspiratória

A ilusão nada mais é que a realidade mal compreendida.

Como a mágica da advinhação funciona

Num típico show de mágicas não pode faltar o número da boa e velha carta adivinhada:

O mágico te entrega as cartas e pede que sejam embaralhadas. Pede que você retire uma e guarde, sem revelar qual é.

Então, ele faz uma graça qualquer e pede que você revele sua carta. Depois, manda que você olhe debaixo da mesa:

Há uma carta idêntica a sua!

Como isto aconteceu?

Simples: para cada carta do baralho ele tem uma outra guardada em algum lugar. Debaixo da mesa, outra no bolso, uma terceira na manga, mais uma no paletó…você entendeu.

Aliás, baralhos específicos para praticar mágica tem cartas reduzidas, justamente para facilitar ao aprendiz.

A grande habilidade do mágico é, na verdade, a memorização.

Este truque simples se chama técnica das múltiplas saídas.

Por que as elites parecem sempre se beneficiar de toda situação?

Você confere as notícias e, se parar bem pra pensar, não importa a catástrofe, o desastre, a emergência ou a bárbarie: as elites mundiais parecem inafetadas, capazes de ainda tirar proveito de toda situação.

Como isso é possível?

Esta capacidade é a mesma do mágico. As pessoas comuns raramente tem múltiplos planos e saídas para as diversas situações da vida. Como demonstrou B.F. Skinner¹, somos seres altamente mecanizados, incapazes de alterar nosso estado-resposta de acordo com diferentes situações-problemas, a menos que tenhamos adquirido esta habilidade por algum processo formal de treino ou de forma mais natural através da nossa herança cultural.

Como chegaram a tal capacidade

A maioria das elites é composta por uma rica gama de pessoas versadas em diferentes tópicos da vida e do conhecimento. Por exemplo, a elite judaica sionista construiu, ao longo das décadas, um sólido sistema de educação que inicialmente visava transmitir o conhecimento cultural-religioso e foi, ao longo dos séculos, se tornando eficaz também na transmissão de conhecimentos práticos, financeiros e acadêmicos. Citei a cultura judaica pela farta documentação deste fenômeno, como demonstrado por Botticini².

Quase toda cultura milenar se ajustou em algum grau à técnica das múltiplas saídas. No frigir dos ovos, trata-se de uma praticidade natural, fruto da criatividade e do instinto de sobrevivência do ser humano.

O problema reside na análise retrógrada, quando olhamos para os problemas quotidianos e não entendemos porque algumas pessoas se sobressaem e são mais hábeis em tirar proveito dos sistemas estabelecidos.

Notadamente, temos o fenômeno das teorias conspiratórias: na falta de conhecimento sobre este fenômeno, a pessoa tende a crer numa explicação moralista e surreal, já que tudo parece um absurdo se visto de fora. Se o observável em si é anormal, qual o problema em aceitar explicações ainda mais anormais?

Saída

A solução ideal para a assimetria de habilidades entre povos milenarmente treinados na técnica das múltiplas saídas e pessoas não versadas na prática é a educação em massa. Infelizmente, o estado atual da excessiva parcialidade da informação, comunicação de alta velocidade e vida efêmera vão ao contrário da solução.

Somos bombardeados com informações o tempo inteiro pelo “quadradinho de vidro no bolso”. Mas o quão capacitado você é para julgar uma informação jornalística?


dura verum, sed verum.


Referências

  1. SKINNER, Burrhus Friederich. Beyond Freedom and Dignity. New York: Bantam, Vintage Book, 1973.
  2. BOTTICINI, Maristella; ECKSTEIN, Zvi. The chosen few: How education shaped Jewish history. 70-1492. Princeton University Press, 2015.

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