Bases fisiopatológicas do autismo
Epidemiologia
Organização Pan-Americana da Saúde
TACA - The Autism Community in Action
Estima-se que, em todo o mundo, uma em cada 160 crianças tem transtorno do espectro autista. Essa estimativa representa um valor médio e a prevalência relatada varia substancialmente entre os estudos. Algumas pesquisas bem controladas têm, no entanto, relatado números que são significativamente mais elevados. A prevalência de TEA em muitos países de baixa e média renda é até agora desconhecida[3].
Com base em estudos epidemiológicos realizados nos últimos 50 anos, a prevalência de TEA parece estar aumentando globalmente. Há muitas explicações possíveis para esse aumento aparente, incluindo aumento da conscientização sobre o tema, a expansão dos critérios diagnósticos, melhores ferramentas de diagnóstico e o aprimoramento das informações reportadas[3].
O aumento significativo do diagnóstico de TEA é uma discussão ainda sem consenso, uma vez que a difusão dos critérios diagnósticos e das ferramentas melhoraram a sensibilidade de detecção e, de forma oposta, a inclusão de antigos diagnósticos no espectro e o diagnóstico equivocado também contribuiram para as estatísticas.
Alterações estruturais do autismo
A primeira observação material com relação as estruturas nervosas no autismo foi a circunferência cefálica. Em média, os autistas tem a cabeça até 20% maior em circunferência e esse dado sempre chamou a atenção da neurologia, por indicar algum tipo de desenvolvimento anormal do SNC.
Com o avanço do auxílio de imagem não invasiva e do mapeamento da atividade metabólica cerebral, foi possível determinar que o autista tem um maior número de sinapses.
Mais tarde, foi possível conhecer que, na verdade, o neurodesenvolvimento do autista cursa ao contrário do desenvolvimento de pessoas normais. Primeiro, todo o SNC é afetado por excesso de matéria cinzenta e branca, além de claro aumento de densidade das sinapses. Segundo, o período de neurodesenvolvimento é bastante aumentado, chegando a extremos como a amígdala que pode se manter em desenvolvimento exagerado até os 18 anos.
Teoria da mente
A mentalização é um conceito neuropsíquico que pode ser definido como a capacidade de atribuir comportamento, presumir ações e entender atitudes de outrem como se fossem suas. Trata-se de uma excelente capacidade humana que provavelmente contribui bastante para a evolução do homem moderno.
As redes neurais envolvidas na mentalização, bem como a região temporoparietal conhecida por ser ativada durante o contato visual mútuo e monitorização de movimento está hipoativa apesar de hipertrofiada em pessoas que reprovam o teste de Sally-Anne[1].
Teste de mentalização mais elaborado
Experimento Sally-Anne
Os fatores de risco
Propostas teóricas mostram que drogas conhecidas por causar autismo atuam de forma similar a outros mecanismos estressores.
Ácido valproico
A metilaçao do DNA facilitada pela ação intracelular do ácido valproico está comprovada pelo chamado modelo autista em roedores[4].
Idade avançada dos pais
A idade materna — e paterna em menor grau — são fatores de risco bem estabelecidos para o TEA da prole. O mecanismo mais aceito até o momento é a excessiva metilação de diferentes regiões do DNA das células reprodutoras.
Bases genéticas
Até 15% das pessoas com TEA possuem outra alteração genética, em sua grande maioria doenças ligadas ao desenvolvimento[1]. Algumas destas doenças produzem sintomatologia muito próxima ao autismo.
Síndrome de Rett
A síndrome de Rett com prevalência de 1 em 15mil meninas também é um exemplo de doença genética ligada ao cromossomo X que apresenta claras similaridades com o autismo. Sabidamente, as causas são involuções estruturais causadas por remodelamento de cromatina em decorrência de DNA metilado. Outra marcada característica é a redução na expressão de BDNA [1].
Como o X afetado é incompatível com a vida, somente mulheres tem a doença na forma mosaica.
Síndrome do X frágil
A síndrome do X frágil é notada pela deficiência intelectual do portador, bastante similar ao autismo na sua forma mais típica, contando com elementos bastante específicos como falta de contato visual, comportamento repetitivos, repulsa ao toque etc. Até 25% dos garotos com X frágil são diagnosticados como autistas[1].
Smith-Magenis
A deleção de um braço do cromossomo 17 causa um déficit intelectual e uma queda na habilidade social marcada, com o diferencial de sonolência peculiar.
Outras
- Síndrome de Down: até 7% dos portadores de trissomia do 21 são diagnosticados com TEA.
- Prader-Willi: prejuízo cortical global, similar ao TEA.
- Síndrome de Angelman: notada ausência da fala com prejuízo amplo do neurodesenvolvimento.
Referências
- KANDEL, Eric et al. Principles of neuroscience 5th. AMGH Editora, 2014.
- CHALIHA, Devahuti et al. A systematic review of the valproic-acid-induced rodent model of autism. Developmental neuroscience, v. 42, n. 1, p. 12-48, 2020.
- https://www.paho.org/pt/topicos/transtorno-do-espectro-autista
- CHOMIAK, Taylor; TURNER, Nathanael; HU, Bin. What we have learned about autism spectrum disorder from valproic acid. Pathology research international, v. 2013, n. 1, p. 712758, 2013.
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